quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Houve um tempo em que eu achei que era feliz

Pré escola, ano 2000, 6 anos
Eu era a líder dos grupinhos. Como nossa turma era a mais velha do turno da tarde, eu era a menina mais popular do colégio (com 6 anos!). Era tão bonitinha, gordinha, que nunca fazia bagunça na sala. A inspiração das colegas. A que era imitada até no corte de cabelo e nas canetinhas hidrocor. Me lembro bem que as diretoras me chamavam pra todos os teatrinhos, apresentações e corais que eram realizados. E lá estava eu, sempre admirada por ser participativa, por passar sempre (!) no terceiro bimestre e por nunca ter ficado de castigo na hora do recreio. Sim, por ser assim eu herdei essa boa (?) característica do pré. Até hoje nunca tirei uma nota vermelha, continuei sendo a mais popular do colégio, sem ter recebido uma mísera advertência. Minhas colegas me procuram para ouvir meus conselhos. As menininhas da primeira série me olham de cima a baixo, procurando algo, um desenho no meu braço, a marca das pulseiras que eu uso ou onde eu comprei minha bolsa (maravilhosa!). Tudo isso pra, no dia seguinte, elas aparecem igualzinhas a mim. São praticamente cópias minhas em tamanho reduzido. Mas hoje, com 13 anos e prestes a mudar de colégio (por opção) penso se isso tudo que aconteceu realmente me fez feliz. Será que correr um risco de vez em quando não me faria bem? Será que uma bronca do meu pai pela nota vermelha não me faria crescer? É, e eu tenho medo, realmente muito medo, dessas meninas que me imitam se tornarem pessoas sem identidade. Confesso que eu adoro ser invejada, admirada e copiada. Isso massageia meu ego, que nesses dia está meio empenado. Mais eu queria que a realidade fosse diferente. Com 7 anos, meu sonho era trabalhar na loja da minha mãe, enquanto as minhas coleguinhas escolhiam a roupa com a qual vestiriam sua Barbie para a festa de formatura. E enquanto isso, as professoras só me elogiavam, me davam doces pelo meu bom desempenho. E, mais uma vez, isso foi bom pra mim? Atualmente meu maior sonho seria ser uma daquelas crianças-capetinhas que não tem medo de fazer o que querem. E, uma adolescente que não fica sem dormir por uma prova mal feita, por ter tirado uma nota menor que 80%. Eu pensava que era feliz daquele jeito. CDF popular. Mas eu vi que não era. Tive sim meus momentos de glória, mas não tinha coragem de roubar ao menos um doce da cantina. Sei bem que isso não é certo, mas quando se é criança, tudo faz parte. Eu brinquei de ser empresária, de ter minha própria empresa. E estou quase que administrando a loja da minha mãe (com 13 anos). Pelo menos, ao mudar de colégio espero que a minha reputação também mude. Não quero ser mais copiada, quero que minha bolsa seja exclusiva, que minhas pulseiras fiquem estampadas no meu braço, só no meu. Quero ser amiga, colega, estar presente. Mas não tirando notas baixas. Senão, como que eu vou passar no vestibular de Comunicação?
*Eu inventei a moda de usar aquelas pulseirinhas coloridas da Bahia aos montes no braço. Hoje, em TODA a cidade eu vejo meninas desse jeito. E ainda saem espalhando pelos 4 ventos, eu que inventei! Olha como todo mundo tá me imitando! Vê se isso não tira a paz de qualquer filha de Deus?
*Feliz Ano Novo!

Um comentário:

Mônica Alves disse...

Ah, tudo faz parte.
Um dia você também vai sentir falta de ser a invejada, te garanto...
;**